Vocações, universo de misericórdia
Queridos
irmãos e irmãs!
Iniciamos
o mês de agosto, Mês vocacional. Dentro do Ano Santo Extraordinário, Jubileu da
Misericórdia, somos chamados a refletir sobre a relação entre vocação e
misericórdia, uma reflexão necessária, pois toda vocação é expressão da
misericórdia divina. Em primeiro lugar, vocação é um chamado para relação.
Antes da funcionalidade da vocação, devemos reconhecer a realidade mesma do
chamado como experiência de relação: Deus chama o ser humano para estar em
comunhão com Ele. Essa é realidade fundamental. Assim, podemos afirmar: Deus
cria o ser humano para se unir a ele. Como nós precisamos enfatizar essa
verdade. Que Deus seja o nosso Benfeitor, isto é, que recebamos dele os dons
que necessitamos para viver, vida, saúde, sustento, alimentação, trabalho, paz e
sossego, tudo isso é verdade. Mas, o que é fundamental na fé é a percepção e
aceitação de que Deus mesmo, em pessoa, vem ao nosso encontro. Essa é a base do
significado de vocação. Todos os homens e mulheres vem ao mundo “vocacionado”,
isto é, chamado para essa união.
Em
segundo lugar, tal união é expressão da palavra “misericórdia”. Ela não está
somente relacionada ao pecado, como se não tivesse acontecido o pecado não
teríamos necessidade de falar de misericórdia. Ao contrário, falar de
misericórdia é falar da atitude fundamental de Deus em relação a nós. Isto é,
nós somos sempre diferentes de Deus, imperfeitos, finitos e necessitados dele.
É certo de que Ele nos criou para sermos dele e isso o compromete a nos
conservar sempre renovados. Mas, isso é totalmente gratuito de sua parte. E é
nessa gratuidade onde se fundamenta a misericórdia, isto é, Ele está sempre
conosco. É essa sua presença amorosa, benevolente e graciosa que faz de nós
homens e mulheres chamados à felicidade. Essa é a nossa felicidade: vocação,
caminho de felicidade. Se Deus não tivesse sustentado a nossa vida, não
subsistiríamos (cf. Sb 11,24-26), inclusive se não tivéssemos pecado. Mas não
teríamos pecado se não tivéssemos nos afastado dele. Misericórdia é isso: Deus
cria para se unir ao ser humano e não deixa que nada impeça essa união, nem a
liberdade humana, nem a ingratidão de rejeitar ser amado.
Por fim, e a partir disso, vem a
funcionalidade da vocação. A vida de comunhão com Deus é por natureza
anunciadora, testemunhal. Quando tomamos consciência da relação que Deus
estabelece conosco e assumimos essa mesma relação, então nós nos tornamos
anunciadores, testemunhas da graça de sermos envolvidos por Deus: leigos e
leigas, casados ou solteiros, fiéis engajados que assumem o batismo nas nossas
comunidades e paróquias, padres, diáconos permanentes, religiosos e religiosas,
catequistas e todos os outros agentes de pastoral vivem essa realidade, não
somente como função mas como experiência de relação com Deus. Essa experiência
é o que chamamos de espiritualidade ou carisma, fonte de riqueza da própria
Igreja. É salutar, portanto, que o nosso discurso sobre vocação não se limite a
firmar somente a vocação sacerdotal e religiosa. É ensinamento da Igreja que o
batismo é a fonte de todas as vocações. E que vocação é um universo
multifacetado: homens e mulheres, leigos e ministros ordenados, religiosos e
religiosas, todos somos vocacionados, todos temos uma vocação. Alias, há uma
vocação originária, base para todas as vocações. Ela vem expressa na
Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, do Concilio
Ecumênico Vaticano II, onde se lê que há um chamado universal à santidade: “Por
isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam
pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a
vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4)” (CONCÍLIO
VATICANO II. Constituição dogmática sobre a IgrejaLumen gentium, n. 39).
Fonte: http://arquidiocesedenatal.org.br/mensagem/vocacoes-universo-de-misericordia